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Puxada de cavalos em Pomerode: a selvageria dos homens

Praticantes da puxada de cavalo agrediram com socos e pedradas defensores de animais e jornalistas que cobriam o evento

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Puxada de cavalos em Pomerode termina em agressão aos defensores dos animais como Aprablu e Ama Bichos em reportagem do Jornal de Santa Catarina e do Diário Catarinense, da RBS, de Cristian Edel Weiss, Cristian Weiss
Publicada originalmente no Santa e no Diário Catarinense em 19/4/2010


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Praticantes da puxada de cavalo agrediram com socos e pedradas defensores de animais e jornalistas que cobriam o evento

CRISTIAN WEISS
POMERODE

Envolta no corpo, a faixa de protesto contra a puxada de cavalos era o único escudo que protegia Heike Weege de uma chuva de ovos e pedras. Em vão. Sob gritos de incentivo da plateia, cerca de 30 participantes da puxada partiram para cima dos 14 manifestantes que criticavam a promoção do evento. A haste da faixa virou a própria arma com que Heike foi agredida nos braços, aos gritos de súplica para que parassem.

Com a câmera fotográfica na mão, a presidente da Associação de Proteção aos Animais de Blumenau (Aprablu), Bárbara Lebrecht, não conseguia decidir se corria ou ajudava a companheira, quando foi empurrada. Caiu e fraturou o fêmur. Ela está internada no Hospital Santa Catarina. Ao mesmo tempo, Patrícia Luz, internada no Santa Isabel, se desesperava com o sangue que descia pelo rosto, ao ter a testa perfurada.

Sem reação, os manifestantes procuravam entrar nos automóveis e fugir da legião que, aos gritos, tentava expulsá-los do local, quando um caminhão e uma comitiva de motos tentaram bloquear a saída da rua. Qualquer um que estivesse por perto tornava-se alvo das agressões.

Cinegrafista da TVBV, Luiz Deluca se protegia nos muros de uma casa para fugir dos socos e tapas que levava de três homens. Quando lhe ofereceram carona, ele soltou a câmera e correu para o carro. Na fuga, quase foi atingido nas costas pelo equipamento, que se destruiu ao cair no chão.

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A selvageria foi a resposta ao protesto que começara pacificamente cinco minutos antes, em frente a um terreno da Rua Ribeirão Souto, que servia de arena improvisada para a puxada de cavalos. Integrantes da Aprablu, da Associação dos Melhores Amigos dos Bichos (AMA Bichos), da Oba Floripa e da Ecosul criticavam o uso de cavalos em provas que medem a força.

Os animais são forçados a arrastar sacos de areia de até 2 toneladas sobre um arado por 10 metros em uma pista de terra. Desde a manhã, quando os primeiros participantes chegaram, os manifestantes estenderam faixas e cartazes com inscrições de repúdio.

Antes da reação, o clima era tranquilo. Mesmo com o sol forte perto das 13h, 200 pessoas – entre agricultores, empresários e famílias inteiras – disputavam o melhor lugar à sombra para assitir à quinta rodada do evento, organizado pelo Clube do Cavalo. Havia 25 participantes de Pomerode e oito municípios vizinhos, que levaram 60 animais para a disputa de força e resistência.

PM chegou 15 minutos após o fim das agressões

Chamada assim que as agressões começaram, a Polícia Militar chegou ao local mais de 15 minutos após o fim dos ataques. Ninguém foi preso.

A reportagem do Santa acompanhou os preparativos e a puxada de cavalos desde o início da manhã. Em momento algum havia policiais na localidade. Após as agressões, um policial militar tentou intimidar jornalistas que cobriam a puxada, argumentando que o evento – aberto ao público – era privado e que os veículos de comunicação deveriam assumir os riscos, além de ter autorização por escrito dos organizadores.

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Em resposta, o comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Álvaro Luiz Alves, justificou que não houve intenção de se omitir com relação ao evento e que outras ocorrências deveriam estar sendo atendidas no momento. Sobre a intimidação à imprensa, Alves prometeu que irá questionar a atitude dos agentes contra os jornalistas.

Hoje, às 10h, defensores dos animais agredidos por praticantes da puxada farão exame de corpo de delito. De acordo com a voluntária da Associação dos Melhores Amigos dos Bichos (AMA Bichos), Heike Weege, a Justiça será acionada contra os organizadores do evento pelas lesões corporais causadas no tumulto.

Contraponto

O que diz o presidente do Clube do Cavalo, Miro Just:
O Santa ligou para a casa de Miro, mas familiares disseram que ele estava dormindo e que não tinha condições de atender ao telefone nem de responder pelas agressões da tarde de domingo.
Puxada de cavalos em Pomerode termina em agressão aos defensores dos animais como Aprablu e Ama Bichos em reportagem do Jornal de Santa Catarina e do Diário Catarinense, da RBS, de Cristian Edel Weiss, Cristian Weiss
Reportagem publicada no Diário Catarinense

Opinião dos internautas

Foi uma atitude covarde o que ocorreu ontem em Pomerode. Homens embriagados agredindo um grupo composto, na maioria, por mulheres. Apanhei muito. Mas me sinto íntegra. Luto pelo que acredito.

Heike Weege
 

Que homens são estes que se divertem às custas do sofrimento de um ser vivo, que sente dor, frio, fome e é incapaz de se defender da ignorância humana?

Roseli Maria Beims

Muito triste ver uma cidade como Pomerode praticar crueldade contra os animais. Sempre considerei a cidade uma das mais educadas e civilizadas da região. Vou rever este conceito.

Claudia Regina Boppré De Barba

Só a formação do indivíduo com carência de amor pode justificar tamanha insensibilidade com o sofrimento dos animais.

João Wanka
Puxada de cavalos em Pomerode termina em agressão aos defensores dos animais como Aprablu e Ama Bichos em reportagem do Jornal de Santa Catarina e do Diário Catarinense, da RBS, de Cristian Edel Weiss, Cristian Weiss

Prefeitura se opõe à violência praticada durante o evento

A partir de hoje, o município irá abrir uma discussão com os moradores sobre a puxada de cavalo, evento que ocorre todos os anos na cidade. A intenção é evitar que a violência contra protetores de animais, registrada ontem, prejudique a imagem da cidade. Segundo o secretário de Turismo, Cláudio Krueger, a puxada é particular e faz parte do calendário dos Clubes de Caça e Tiro, e não do calendário de eventos da cidade.

– Não apoiamos este tipo de prática, tanto que não ajudamos nem na divulgação. Teremos que repensar, pois este tipo de violência traz uma imagem negativa para o município – afirmou Krueger.

Além da discussão com a sociedade, a prefeitura prepara uma nota de repúdio às agressões contra membros das organizações não governamentais, que foram até o local protestar a favor do bem-estar dos animais, e à repressão contra a liberdade de imprensa, pois equipes de reportagem foram agredidas e tiveram equipamentos quebrados pelos organizadores da puxada.

Puxada de cavalos em Pomerode termina em agressão aos defensores dos animais como Aprablu e Ama Bichos em reportagem do Jornal de Santa Catarina e do Diário Catarinense, da RBS, de Cristian Edel Weiss, Cristian Weiss
Reportagem foi manchete do Jornal de Santa Catarina

Sobre a puxada

 Embora não exista lei que impeça a puxada, protetores dos animais baseiam-se na Lei 24.645 de 1934, que trata sobre direitos de animais, e na Lei 9665 de 1998, que aborda crimes ambientais, para requerer o fim da prática. A competição, que começou em 1980, mede a força dos animais através do arrasto de cargas de até duas toneladas

A polêmica

 A puxada é uma competição para medir a força dos cavalos. Começou a ser praticada no Vale do Itajaí na década de 1980.

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 Embora não exista lei que impeça a competição, a Associação dos Melhores Amigos dos Bichos (AMA) quer terminar com a competição, alegando maus-tratos aos cavalos.

 Em abril do ano passado, foram definidas as normas para a realização de puxadas – entre elas, exigências de exames obrigatórios da legislação sanitária estadual vigente e a proibição de uso de substâncias ou medicamentos que alterem ou estimulem os animais.

 A AMA entrou com um pedido de termo circunstanciado contra Ademir Glau, presidente do Clube de Caça e Tiro Germano Tied, mas em junho de 2009 o termo foi arquivado no Ministério Público.


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